Há três pontos chave para entender esta crise:
1. A crise do novo coronavírus Os protestos na ilha parecem ser resultado de esgotamento acumulado da população. Esse esgotamento aumentou nos últimos meses com uma das maiores crises econômicas e de saúde que a ilha viveu desde o chamado "período especial" (a crise no início dos anos 1990 após o colapso da União Soviética).
2. A situação econômica
O coronavírus teve um profundo impacto na vida econômica e social da ilha. O turismo, um dos motores da economia cubana, está praticamente paralisado. Além disso, há inflação crescente, apagões, escassez de alimentos, medicamentos e produtos básicos.
No início do ano, o governo propôs um novo pacote de reformas econômicas que, ao aumentar os salários, fez disparar os preços. Economistas como Pavel Vidal, da Universidade Javeriana de Cali, na Colômbia, estimam que podem subir entre 500% e 900% nos próximos meses. Dada a falta de liquidez em moeda estrangeira, o governo promoveu desde o ano passado a criação de lojas onde só se pode comprar com contas em moedas livremente conversíveis (MLC). Alimentos e bens de primeira necessidade são vendidos em moedas nas quais a população não recebe seu salário.
3. Acesso à internet
Antes deste domingo, o maior protesto ocorrido em Cuba após o início da revolução de Fidel Castro, de 1959, havia acontecido em agosto de 1994 em frente ao Malecón de Havana.
Cubanos em outras províncias nem sabiam o que havia acontecido na capital.
Pessoas protestaram em vilarejos e cidades em toda a ilha, pela 1ªvez em mais de 60 anos, gritando 'liberdade' e 'abaixo a ditadura'. Governo cubano atribui a situação econômica ao embargo dos EUA.
Milhares de cubanos saíram às ruas no domingo (11) no que já é o maior protesto da história recente no país.
Pela primeira vez em mais de 60 anos, pessoas protestaram em cerca de 20 vilarejos e cidades em toda a ilha gritando "liberdade" e "abaixo a ditadura". Com a propagação das manifestações, o presidente do país, Miguel Díaz-Canel, fez um pronunciamento na TV para convocar seus apoiadores a tomarem as ruas para "confrontar" os manifestantes.
Os protestos começaram na cidade de San Antonio de los Baños, no sudoeste de Havana, e desde então se espalharam por todo o país.
"Isso é pela liberdade do povo, não aguentamos mais. Não temos medo. Queremos uma mudança, não queremos mais ditadura", disse, por telefone, um manifestante em San Antonio à BBC News Mundo, serviço de notícias da BBC em espanhol.
Segundo Alejandro, que participou do protesto em Pinar del Río, o protesto em sua província começou depois de as pessoas verem o que estava acontecendo em San Antonio de los Baños por meio das redes sociais.
"Vimos o protesto nas redes e começou a sair gente. Hoje é o dia, não aguentamos mais", disse o jovem por telefone. "Não há comida, não há remédio, não há liberdade. Eles não nos deixam viver. Já estamos cansados".
A BBC News Mundo entrou em contato com o Centro de Imprensa Internacional, única instituição governamental autorizada a dar declarações à imprensa estrangeira, para saber a posição do governo cubano, mas não obteve resposta até a conclusão desta reportagem.
Os protestos de domingo (11), que foram duramente reprimidos, de acordo com vários vídeos e relatos nas redes sociais, são um evento extremamente incomum em uma ilha onde a oposição ao governo não é permitida.
Como, então, explicar que milhares de cubanos tenham saído às ruas por toda a ilha?
FONTE: G1.GLOBO
Comments